█ A crise entre poderes: COVID-19


Os tempos presentes são de incompreensão e intolerância.


São tempos de guerra onde todos deveriam ter um só foco – a união plena para a salvação da Nação. Todavia, o que prepondera é a prevalência de interesses subalternos, que parecem desconhecer a gravidade do momento político que desafia e ameaça os valores até aqui desfrutados pelos brasileiros.


Sem dúvida alguma vivemos o momento mais crítico, mais desafiador, enfrentado pelo nosso país, desde o momento em que começamos a pensar, agir e sentir como Nação. A pandemia do coronavirus que, inopinadamente e qual praga maldita desabou sobre o país, magnificou as históricas divergências entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, que marcham em compassos e direções divergentes, esvaindo os seus escassos recursos em causas menores que comprometem o efetivo combate ao COVID-19, pandemia que desafia toda a humanidade.


Definitivamente, os integrantes desses poderes não se aperceberam e se convenceram de que estamos travando uma guerra sem sangue, mas nem por isso menos cruel, desigual, contra um inimigo invisível, que dia a dia dizima centenas de pessoas. Indefesas e amedrontadas, só lhes resta confiar nas ações de socorro do poder público, nem sempre oportunas. Insensíveis, transformam os mortos em simples números, fria estatística, cujos corpos nem sequer podem ser pranteados pelas suas famílias. É mais uma tragédia humana que, a duras penas, temos que aceitar.


Quando recentemente celebramos a epopeia da conquista de Montese, o mais cruento combate travado pela Força Expedicionária Brasileira nos campos de batalha da Itália, na 2ª Guerra Mundial, é forçoso comparar as nossas perdas totais de então com as presentes e futuras na luta contra o COVID-19. Os mortos pelo coronavirus, na data de hoje, em apenas 2 meses, atingem a assustadora marca de 2700, valor 6 vezes superior ao de pracinhas que heroicamente tombaram em solo italiano. De igual forma, o número de infectados ultrapassa a 43.000 pessoas, mais do que o dobro dos efetivos militares que enviamos à Itália, após 2 anos de intenso preparo e instrução. Incrível que todo esse infortúnio tenha ocorrido em apenas 2 meses, números que devem crescer vertiginosamente nos próximos meses.


A guerra contra o coronavirus motivará, ainda, muitas lágrimas e sofrimentos a milhares de famílias brasileiras, não apenas pelas perdas irreparáveis dos seus entes queridos, mas, também, pela desorganização estrutural da economia e as imensas dificuldades na sua retomada, desemprego em proporções alarmantes e destruição da harmonia em milhares dos nossos lares, com consequências imprevisíveis para toda a sociedade.


De fato, a face da guerra é outra, não declarada, mas imensamente dolorosa e destruidora. A todos ameaça.


É, pois, incompreensível a disputa fraticida que entre si travam os Poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, bem como, governos estaduais e municipais e mídia em geral, que transformaram o vírus no seu principal agente político. Legislativo e Judiciário, por todas as formas, buscam tolher ao máximo as ações do Executivo, sem analisar o seu mérito e propriedade. Gostemos ou não, ainda que possam ser estimuladas e facilitadas pelos Legislativo e Judiciário, cabe ao Executivo, como sua missão maior, a responsabilidade de promover oportunas, democráticas, abrangentes e enérgicas ações para restaurar a normalidade na vida do povo brasileiro, reduzindo o seu sofrimento e renovando a sua esperança por dias melhores pós COVID-19. É a essência do humanismo liberal que adotamos como forma de vida. É a política do “todos juntos em uma só direção”, superando naturais dissenções e dificuldades com um só objetivo: vencer a guerra.


Mas, não é o que vem acontecendo. Todos sabemos que a Política é a arte de conversar. E de ceder. É o ofício dos que honram a Nação pelos votos que receberam.


A minha longa permanência no Exército permitiu-me viver os nossos mais cruciais problemas dos últimos 60 anos. Testemunhei como fundamental, insubstituível, a arte de conversar. Graças a ela, em 1961, no movimento político que ficou conhecido como “Legalidade”, por muito pouco, não nos engalfinhamos em tresloucada guerra civil. Mas chegamos muito perto dela, que só foi evitada com a arquitetura política que culminou no parlamentarismo, fruto de intensa e dificílima negociação entre as partes.


Em 1963/1964, a guerra fria sufocou o Brasil, radicalizando ao ponto de ruptura as ideologias que professavam os políticos de então. As Forças

pisoteadas, os princípios basilares da cultura e da família brasileira aviltados. Nesse terrível quadro vigente, desagregador, capaz de ameaçar a federação e até mesmo a nossa soberania, antessala da comunização do país, tentou-se, até as últimas consequências, negociar. O comandante do 2° Exército, Gen Ex KRUEL, buscou insistentemente convencer o Presidente JOÃO GOULART, seu amigo, a conversar e a ceder. Fracassou. Se tivesse logrado êxito, possivelmente, não teria ocorrido a Contra-Revolução de 1964.


As posições intransigentes que os políticos da atualidade veem tomando, impedindo e menosprezando negociações, destruindo as frágeis pontes de entendimento existentes, podem nos levar a tempos imprevisíveis, com até mesmo a quebra dos princípios constitucionais.


Sinto no presente momento político as mesmas apreensões que no passado vivi, quando expus a minha carreira e a vida na defesa da liberdade e da democracia do povo brasileiro.


Minha longa experiência grita dentro do meu ser que, mais do que nunca, é preciso conversar, se não voluntariamente, com a pressão das Forças Armadas, que têm sido o poder moderador e de equilíbrio nesses últimos 20 anos na vida política brasileira. E na guerra que estamos travando, que profundamente ameaça a sobrevivência do nosso povo, jamais poderão ficar ausentes.


É TEMPO DE SE INSTITUIR UM CONSENSO POLÍTICO GERAL.É EXIGÊNCIA DA SOCIEDADE.


O coronavirus pode vir a ser o fator de aglutinação, de união, de convergência de pensamentos, políticas e ações (e não de divisão como hoje ocorre), na busca de uma solução abrangente, patriótica , desapegada de ódios e rancores que, sobretudo, tenha como foco os interesses maiores de vida e de progresso da Nação Brasileira.

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