█ A Pareidolia e a Apofenia dos Brasileiros

Jober Rocha*

Alguns dos meus leitores, ao lerem o título do presente texto, estarão, com certeza, achando que falarei de dois distúrbios psicopatológicos relativamente comuns a muitos brasileiros, tanto das classes de renda mais baixas quanto das mais altas, como a cleptomania (que faz com que a pessoa, por exemplo, comece a furtar diversas coisas, inclusive, até mesmo, àquelas sem nenhum valor maior, como lápis, canetas esferográficas e grampeadores das repartições públicas), a coprofagia (prática de ingerir fezes) ou a copro hiperemese (prática de vomitar fezes ao falar alguma coisa).


Nada mais longe da verdade, meus caros amigos. Na realidade me reporto, sim, a dois fenômenos psicológicos pessoais, embora possam ocorrer com a maioria dos brasileiros ou com qualquer ser humano nos mais longínquos lugares do planeta.


A Pareidolia é um fenômeno que faz com que as pessoas reconheçam determinados padrões nas coisas que observam; padrões estes verdadeiramente inexistentes na maioria das vezes.


Ela explica muitas ilusões criadas pelo cérebro. Tudo depende da capacidade criativa de associação de formas por parte do observador. A imagem e a aparência do objeto visto varia de um observador para outro, tendo muito a ver com a condição psicológica de cada um e daquilo que passa por sua mente. Assim, olhando para uma nuvem, uma folha, uma radiografia, alguns vêm imagens de cristo, outros do demônio, outros ainda de nossa senhora, figuras de animais, etc.


A Pareidolia, portanto, representa criações de nossas mentes a partir de formas percebidas na Natureza ou no ambiente, que nossas imaginações transformam em coisas totalmente distintas do que elas são na realidade.


A Apofenia, por sua vez, consiste no fenômeno cognitivo em que o indivíduo, embora normal e saudável, percebe padrões ou conexões inexistentes, em dados aleatórios. Melhor dizendo, trata-se de quando ele imagina uma lei de formação ou um padrão de recorrência em fenômenos que são, simplesmente, devidos ao acaso ou aleatórios. A pessoa que sofre de Apofenia imagina vínculos entre as eventuais ocorrências de determinados fenômenos, muito embora nenhum vínculo exista. Em muitos casos torna-se semelhante ou é confundida com a Pareidolia.


Consiste, portanto, a Apofenia em um importante fator no surgimento de crenças supersticiosas, de crenças acerca de fenômenos paranormais; bem como, da crença em fenômenos que não passam de ilusão de ótica.


Resolvi escrever sobre estes dois fenômenos psicológicos que ocorrem com pessoas normais, porque eles são muito mais comuns, entre nós, os brasileiros, do que imaginamos.


Uma das ilusões que acomete tanto parte do nosso povo quanto a maior parte de nossas autoridades é a de que a constituição federal está sendo cumprida a risca e de que reina a paz em todo o território nacional, não existindo, portanto, nenhuma razão superveniente para uma eventual intervenção militar que restabelecesse a necessária independência entre poderes da república.


Lembro-me de que nos anos setenta, mais especificamente no ano de 1976, a empresa Alpargatas, fabricante dos jeans U.S. Top (que concorria com as calças Lee e Levis), lançou uma propaganda na Mídia, voltada para o público jovem, que, através de uma canção de Sergio Mineiro e Beto Ruschel, dizia: – “Liberdade é uma calça velha, azul e desbotada, que você pode usar do jeito que quiser…”


Quarenta e quatro anos depois, em 2020, o Brasil passa por uma das maiores crises da sua História Republicana e, ademais de a Liberdade continuar sendo aqui, apenas, uma calça azul, velha e desbotada; a nossa Constituição Federal (que antes era defendida com patriotismo pelas autoridades civis e militares) hoje em dia é, tão somente, um simples pedaço de papel, que os próceres da República, também, usam do jeito que desejam.


Rasgada, pisoteada e com suas folhas arrancadas pelas próprias autoridades a quem caberia preservá-la e defendê-la da sanha gananciosa de estrangeiros e de maus brasileiros, a nossa Constituição nada mais tem sido, nos últimos anos, do que um simples pedaço de papel.


Vejo, pois, que o fenômeno da Pareidolia acomete muitas das nossas autoridades, que veem o que não existe. Olhando para uma folha de papel rasgada e jogada ao chão imaginam, mediante suas capacidades criativas de associação de ideias, ver uma carta magna sendo cumprida e respeitada, tanto por aqueles que são obrigados a respeitá-la, quanto por aqueles que juraram fazê-la cumprir com o sacrifício da própria vida.


Relativamente à pandemia que grassa pelo mundo todo, e para a qual os remédios que curam não têm sido utilizados no país, estou convencido, tratar-se também do efeito da Pareidolia que acomete nossas autoridades, já que muitas delas, embora vendo as curas produzidas por tais medicamentos, não acreditam nestas curas, talvez, em decorrência de um viés psico-ideológico comum nestes casos, preferindo construir grandes hospitais, importar milhares de aparelhos de respiração mecânica e fazer grandes contratos com empresas estrangeiras produtoras de vacinas, ao invés de distribuir para a população carente medicamentos de baixo custo que já comprovaram, na prática, suas eficácias. O próprio presidente da república foi curado por um desses medicamentos, ainda proibido de ser receitado pela rede pública, em alguns Estados da Federação, por determinação dos governadores. Com isto, medicamentos que sempre foram vendidos livremente nas farmácias, sem necessidade de receita médica, passaram a ter seus usos prescritos, apenas, com receitas médicas controladas (como é feito com os medicamentos de tarja preta), para dificultar sua compra pelo povo que conhece seu efetivo poder de cura.


Acho que essas ações, algumas dolosas outras culposas, poderiam, no futuro, ser enquadradas na nossa lei do genocídio, de n. 2.889/56, com vigência anterior à constituição em vigor; porém, que foi recepcionada pela constituição de 1988.


O crime de genocídio, por outro lado, foi reconhecido pela primeira vez, sob o Direito Internacional, pela Assembleia Geral das Nações Unidas (A/RES/96-I) em 1946. Ele foi codificado como um crime independente, na Convenção de 1948, para a Prevenção e a Repressão do Crime de Genocídio (a Convenção contra o Genocídio), bem como, consta também no Estatuto de Roma, do Tribunal Penal Internacional (Artigo 6). A Convenção da ONU foi ratificada por 151 países independentes, até maio de 2019, dentre os quais o Brasil.


Com referência a Apofenia, podemos constatar que a grande mídia parece ter muitos dos seus integrantes vivenciando este fenômeno diariamente, notadamente quando noticiam muitas das ações do novo governo, de forma negativa, tentando vinculá-las a eventos inexistentes.


Alguns magistrados eu acredito que, também, são acometidos de Apofenia, pois, ao absolverem determinados políticos, empresários e executivos, parecem imaginar que enriqueceram em tão pouco tempo, não pela prática de atos de concussão ou de desvio de dinheiro público; mas, por simples razões paranormais.


Alguns dos nossos políticos, também, costumam, com frequência, ser vítimas da Apofenia; notadamente quando, após terem tomado medidas impopulares, contrariado as promessas feitas aos seus eleitores e se envolvido em episódios de desvio de recursos, imaginam que serão reeleitos por força de crenças supersticiosas de seus eleitores ou deles mesmos, como defensores e propagadores destas crenças.


A Apofenia também acomete parcela expressiva do nosso povo, doutrinado, ao longo das últimas três décadas, a somente ver coisas boas em governos que só praticaram coisas más, em uma evidente ilusão de ótica ideológica. Mediante uma transvaloração de valores que lhes foi paulatinamente imposta pelos ideólogos do partido no poder, passaram a ver o mal no bem e o bem no mal.


Assim, meus caros amigos leitores, eu espero ter despertado a atenção de todos vocês para dois vocábulos praticamente desconhecidos dos brasileiros. Espero, também, que cada leitor, a partir de agora, passe a observar mais detalhadamente suas crenças e, com mais acuidade, suas conclusões e afirmações, tendo sempre em vista a eventual presença, esporádica ou permanente, de algum deles em sua própria psique. Caso perceba ter sido acometido pela Pareidolia ou pela Apofenia, só há uma forma de ver-se livre delas imediatamente: grite bem alto, por três vezes, “Brasil acima de tudo e Deus acima de todos”!


Deixe uma resposta