█ Ignorância Estratégica e Ignorância Tática


A socióloga e professora canadense Linsey McGoey, autora do livro The Unknowers: How Strategic Ignorance Rules the world (Os desconhecedores: como a ignorância estratégica rege o mundo), define a Ignorância Estratégica como a habilidade de explorar o desconhecimento das pessoas para ganhar mais poder. Concretamente, tratar-se-ia da forma como inúmeras pessoas, empresas, instituições e governos optam por ignorar informações para benefício próprio.


A autora menciona em sua obra como as indústrias farmacêuticas usam a suposta ignorância como estratégia para aprovar, junto às agências de vigilância governamentais, medicamentos novos lançados no mercado, sem informar, corretamente, ao público sobre os seus efeitos colaterais ou adversos.


Para tanto, as empresas, por vezes, ‘compram’ pareceres científicos que ressaltam determinados efeitos benéficos e que escondem determinados efeitos maléficos.


A autora aponta, também, como a suposta ignorância é explorada intencionalmente por diferentes grupos, para fins políticos, para decisões jurídicas, para a divulgação de notícias e de comentários na mídia e até na adoção das mais diversas teorias econômicas.


Reconhece a socióloga a existência de três tipos de ignorantes: o inocente, que não tem a menor ideia do que desconhece; o que percebe que não sabe tudo e que reconhece que o que não sabe é tão relevante quanto o que sabe; e o agnotologista (o agente de produção e de disseminação de informações elaboradas pela agnotologia, que consiste no estudo das formas de produção de ignorância), aquele que tenta fabricar e divulga incertezas de forma intencional, objetivando delas beneficiar a si mesmo, seu grupo, sua empresa e/ou seu partido político.


Os dois primeiros tipos mencionados pela escritora eu consideraria como portadores do que chamo de Ignorância Tática e o último como fabricante da ignorância estratégica, por ela mencionada.


Em nosso país temos autoridades e elites pertencentes aos três distintos tipos.


Pelo fato do nosso país, nas últimas duas décadas de governos de esquerda, ter ocupado os últimos lugares no ranking internacional de Educação, de um modo geral, a formação de muitas de nossas elites e autoridades dos três poderes da república é deficiente e estes poderiam ser caracterizados como aquilo que alguns estudiosos denominam de ‘analfabetos funcionais’, estando, tais autoridades, portanto, inseridas nos dois primeiros grupos definidos pela autora.


No terceiro grupo estariam inseridas as autoridades realmente inteligentes, aquelas de natureza maligna que dominam sem aparecer e que se escondem nas trevas, mediante as ignorâncias estratégicas, que, em benefício próprio e dos grupos a que pertencem, planejam e divulgam.


As autoridades possuidoras da ignorância tática seriam aquelas despreparadas para as funções que exercem, que chegaram aos cargos que ocupam por alguma sinecura ou nepotismo ou, então, por absoluta falta de alguém realmente competente para ocupar a função ou o cargo que vieram a ocupar.


São, portanto, as autoridades que não sabem como devem proceder face a qualquer emergência ou situação crítica que se apresente; que tomam frequentemente decisões erradas que causam prejuízos ao erário público; que não percebem se constituir em simples joguetes nas mãos de outras autoridades mais espertas, fazendo tudo aquilo que elas determinam em virtude da submissão hierárquica ou funcional.


Embora causadoras de prejuízos ao país e à sua população, tais autoridades não o fazem por maldade, mas, sim, por desconhecimento. Suas decisões e ações são lamentáveis, embora perdoáveis.


As autoridades que, realmente, são imperdoáveis seriam aquelas que produzem e divulgam a ignorância estratégica. Estas estão todas bem localizadas em seus cargos chaves nos três poderes da república; bem como na vida privada e empresarial. Conhecem a verdade dos fatos, mas as modificam, alteram, descaracterizam, tornam irreconhecíveis, dão-lhes novas faces. Visam seus interesses particulares de riqueza e de poder.


Como no caso dos laboratórios da indústria farmacêutica, mencionados pela escritora citada, valem-se de documentos, pareceres, estudos tendenciosos ou, até mesmo, encomendados e comprados, para justificar o casuísmo de decisões que tomam, simulando desconhecer ou ignorar aquilo que conhecem muito bem. São eles as eminências pardas, os verdadeiros maquinadores do mal, que desconhecem os anseios do povo e só pensam em seus interesses particulares e grupais.


Só continuam a fazer, indefinidamente, aquilo que fazem, porque a nossa população, além de acomodada e preocupada em sobreviver às vicissitudes diárias, é pródiga em cidadãos comuns também ignorantes táticos. Como tal, quase sempre, estes não percebem a maldade e a vilania contidas em muitas das decisões, dos decretos, das leis, das sentenças, dos pareceres, das decisões, das portarias, feitas pelos ignorantes estratégicos. Da mesma forma, não percebem as mentiras propagadas pelos agnotologistas da grande mídia e inseridas neste mesmo contexto de desinformação planejada com objetivos ideológicos e políticos.


As redes sociais, no entanto, são os únicos instrumentos atualmente disponíveis com o poder de desnudar e de denunciar a ignorância, tanto a estratégica quanto a tática, provinda de nossas elites e autoridades. Muitos pensadores e estudiosos afirmam que o próprio sistema educacional, mormente quando a ideologia (notadamente a marxista) se encontra presente entre seus formuladores, dirigentes e professores, está, também, implicado na geração da ignorância estratégica planejada.


Nossos problemas, realmente, são enormes. Qualquer presidente bem intencionado, que busque promover o país; sua economia e o setor social, favorecendo o crescimento e eliminando as desigualdades; combater o crime e os desvios de dinheiro público; aprovar, pelo parlamento, as reformas que se fazem imprescindíveis e urgentes, terá contra si a multidão dos ignorantes táticos e estratégicos.


Não é à toa que mesmo o mais corajoso guerreiro, que ousou desafiar todo um sistema cleptocrático implantado em décadas de má gestão, por vezes, chegue a desanimar da empreitada que tem pela frente. O que o mantém firma na busca pela superação dos obstáculos que se apresentam, estou certo, é o fato de considerar, em que pese qualquer vicissitude pela qual tenha passado, que o Brasil sempre estaria acima de tudo e que Deus sempre estaria acima de todos.