█ Caminhos acidentados, mas certo e único – IV e última Parte


Artigo publicado no Jornal Inconfidência nº 264, de 31 de maio de 2019


Na Primeira Parte deste artigo, prevenimos os nossos leitores do risco de decepção, por não ser possível o Governo resolver os graves problemas brasileiros em curto prazo, já que o Presidente Bolsonaro enfrentaria grandes dificuldades e sofreria sérias ameaças das forças derrotadas politicamente.

Advertimos, também, de que as forças mais poderosas contra o novo Governo estariam no Congresso e no Judiciário, e que o grande desafio seria manter boas relações com ambos, mas sem se deixar neutralizar por eles.

Ainda na Primeira Parte, chamamos a atenção para a ameaça representada pela possível eleição para as Presidências da Câmara e do Senado de dois suspeitos de corrupção, representantes clássicos da velha política, totalmente rejeitada pelos eleitores que sufragaram Jair Bolsonaro, em outubro do ano passado.

No Senado Federal, um esforço muito bem desenvolvido evitou o mal maior, a eleição de Renan Calheiros, que, sem dúvida, criaria grande dificuldade para o Governo. Infelizmente, na Câmara dos Deputados, permitiu-se a vitória de Rodrigo Maia, que já começou o mesmo jogo retórico, usado contra o, então, Presidente Temer, ao dizer apoiar as Reformas, mas apresentar, publicamente, pequenos contratempos, atribuindo-os à falta de coordenação do Governo. É possível que a Reforma da Previdência seja aprovada, ainda que desfigurada, mas as demais pautas-compromisso do Presidente da Repú-blica encontrarão, no Presidente da Câmara, uma enorme barreira.

Na Segunda Parte, insistimos em que o Supremo Tribunal Federal, o Congresso Nacional e os meios de comunicação representam séria ameaça aos objetivos programáticos do Governo.

Manifestamos, também, nossa preocupação com o perigo que vem de supostos aliados, que usam a Imprensa para resolver divergências internas ou atingir objetivos pessoais em detrimento dos institucionais, o conhecido “fogo amigo”.

Na Terceira Parte, abordamos o risco de cair-se em algumas armadi-lhas colocadas pela oposição de esquerda e, infelizmente, também, por alguns membros do próprio Governo.

O Presidente não se pode deixar circunscrever, apenas, à Reforma da Previdência, como querem forçá-lo a fazer. Ele foi eleito para executar uma
extensa pauta conservadora, da qual a tal Reforma é apenas um dos itens da recuperação econômica.

Igualmente, os integrantes do Governos e seus apoiadores não podem sucumbir à tentação de fazer concessões à oposição de esquerda, acolhendo algumas de suas bandeiras e alguns de seus chavões mais caros. O melhor argumento para defender a Reforma da Previdência, por exemplo, não é estimular a abominável luta de classes, dizendo que ela “terminará com a injustiça de tirar dinheiro dos pobres para pagar a aposentadoria dos ricos” e que acabará com os privilégios dos que “trabalham muito pouco e aposentam-se muito cedo, ganhando muito mais”, em benefício dos que “trabalham muito e aposentam-se muito tarde, ganhando muito pouco”.

Discurso mais eficiente seria afirmar-se que os governos esquerdistas do PT levaram o Brasil à ban-carrota, que, não somente desviaram todos os valores acumulados pelos trabalhadores, durante seus mandatos, para suas futuras aposentadorias, como extraviaram todos os recursos em caixa, e, ainda, sacaram todas as receitas futuras de várias gerações, endividando o País, a ponto de inviabilizar seu funcionamento. Não se está a fazer a Reforma, porque se quer, mas porque não há outra opção.

Fazer afagos aos esquerdistas deles não conseguirá novos apoios, mas afastará os eleitores tradicionais que respaldam o Governo.

Também fizemos algumas considerações sobre o Sistema de Proteção Social dos Militares.

Nesta quarta e última parte, procuraremo-nos concentrar tão somente nas verdadeiras ameaças ao Governo Bolsonaro, aquelas poucas que, por sua gravidade, tornam todas as demais irrelevantes.

Elas se concentram no Poder Judiciário, no Congresso Nacional e entre os falsos amigos.

O Poder Judiciário, além de sua tradicional ineficiência, está infiltrado de militantes políticos em todos os níveis, o que leva a sentenças justas ou contaminadas ideologicamente, conforme o Juiz, o Desembargador ou o Ministro Relator. Os partidos de oposição têm-se servido muito disso, recorrendo contra tudo o que o Presidente Bolsonaro faz ou tenta fazer, na esperança de que seja sorteado um Relator favorável. É indispensável que os políticos que apoiam o governo façam o mesmo, saturando o Poder Judiciário, seja recorrendo contra todas as iniciativas da oposição, seja iniciando novas ações.

Pelo pouco tempo transcorrido desde a posse, o Supremo Tribunal Federal ainda não teve um protagonismo muito grande nos recursos contra as ações do Governo Bolsonaro, mas, analisando-se o comportamento de um número não muito definido, mas próximo da metade dos seus onze ministros em casos anteriores, pode-se estimar que, sem dúvida, o STF começará a criar sérias dificuldades em um futuro próximo.

A oposição ao governo, constituída das forças ditas de esquerda, está muito enfraquecida e se tornou inoperante, incapaz de, por si só, criar qualquer embaraço ao Governo, por ter poucos votos no Congresso e não conseguir mais empolgar o povo, porquanto insiste em seu discurso antigo, com as mesmas propostas já rejeitadas pelo eleitor ao eleger Bolsonaro. Contudo, ela se torna perigosa ao contar com o apoio de legendas, que nada ou muito pouco têm de esquerda, mas votam com ela, contra o governo, para chantageá-lo, por interesses pessoais ou grupais, geralmente relacionados com cor-rupção ou com motivações eleitorais. Essas legendas agrupam-se no que se convencionou chamar de “Centrão”.

Na nossa avaliação, quem orienta e coordena as ações do Centrão é o Presidente da Câmara, o Deputado Rodrigo Maia, sobre quem já havíamos alertado na Primeira Parte deste Artigo.

O Presidente do Senado, parece-nos seguir Rodrigo Maia, com mais moderação e discrição. Sem o seu mentor, talvez fosse aliado fácil do Governo.

Quanto ao “fogo amigo”, atualmente, sua principal fonte tem sido o Senhor Olavo Luiz Pimentel de Carvalho, que, sem o ser, dizia-se filósofo, depois professor de filosofia, para virar “ideólogo” e, finalmente, “guru” (uns dizem até que ele é “astrólogo”).

Nós o conhecemos muito bem, pelas bobagens que escreve e diz, entremeadas de afirmações interessantes, que servem para enganar, as pessoas e encantá-las, às vezes, no primeiro contato.

Em seus primeiros artigos, geralmente, começava por desenvolver ideias logicamente encadeadas, deixando a impressão de que se tratava de um texto importante, para, logo, destruir tudo, em um simples parágrafo, com uma grande sandice, o que nos levou ao desinteresse completo pelos seus escritos.

Logo, ele viria a mostrar sua outra face, a agressividade gratuita. Certa vez, disse que a Escola Superior de Guerra era um antro de comunistas, e citou, entre eles, o Gen. Durval Andrade Nery e o saudoso Cel.-Av. Manuel Cambeses Júnior. Conhecíamos os dois militares e nenhum deles era comunista, o que nos levou a contestar a acusação irresponsável.

Para nossa surpresa, apareceram alguns correspondentes ingênuos em defesa do “filosofo”, mesmo reconhecendo que ele havia errado “desta vez”. Estavam tão cegos, que não viram que ele errava sempre.

Passamos a ignorá-lo, por imaginarmos que acabaria por destruir-se a si mesmo, sem deixar de acompanhá-lo, silenciosamente, por vislumbramos seu perigo potencial. Não foi preciso observá-lo por muito tempo para percebermos que ele parecia ser um psicopata, e que tinha muito mais seme-lhanças, com um assassino em série, do que diferenças.

Não é, contudo, um assassino que sai por aí, matando os outros, mas é um iconoclasta, que tenta destruir a reputação dos que não lhe são simpáticos
ou que lhe criticam a arrogância e se recusam a ser seus “discípulos”. Em represália, objetiva matá-los social e politicamente, em razão de sua mente perturbada pelo narcisismo.

Ele não busca a impunidade, protegendo-se no anonimato, como os assassinos em série, ao contrário, procura os holofotes para alumiar seu ego injustificadamente grande, mas sobrevive, resguardado pelo escudo protetor com que o blindam seus seguidores fanáticos. Ainda assim, ele se esconde, mas atrás de uma escrivaninha na Virgínia, bem longe de suas vítimas e de quem quer que queira investigá-lo.

É verdade que ele seduz as pessoas à primeira vista, principalmente as mais jovens, que com ele se identificam pela linguagem vulgar, que interpretam como informal, assim como algumas pessoas mais experientes, que, desesperadas diante de uma situação política caótica para a qual não vislumbram saída, passam a idolatrar o primeiro idiota que vocifera contra tal condição.

A vantagem desse possível recrutamento de adeptos para a causa conservadora é fartamente superada pela desagregação que causa no meio em que atua.

Apesar do falso discurso conservador, ele não se comporta como tal, sabendo-se que sua vida pessoal não é nem um pouco recomendável. Para confirmação, basta consultar sua troca de mensagens com a filha, no Facebook ou pesquisar sobre ela no Google.

Ele não é um intelectual muito culto e corajoso, senão uma pessoa insana, extravagante, além de muito vulgar e grosseira.

Seria muito conveniente identificar-se quem financia sua permanência nos Estados Unidos

Em resumo, Olavo de Carvalho faz muito mais mal do que bem àqueles a quem diz apoiar.

Dessas considerações, podemos concluir que, em números simbólicos, um terço das dificuldades relevantes que o Governo Bolsonaro enfrenta e enfrentará já está sendo criado pelo Presidente da Câmara, o Deputado Rodrigo Maia, e por seus liderados, outro terço, pelo dito “guru” Olavo de Carvalho e por seus seguidores e, finalmente, o terceiro terço das dificuldades será, bre-vemente criado, pelo STF, por meio de seus ministros militantes políticos.

Os demais contratempos são administráveis.

Tudo isso faz-nos lembrar da frase atribuída ao naturalista e botânico francês Auguste de Saint-Hilaire, que, se não foi verdadeira para as formigas, aplica-se muito bem a certos seres humanos:
“Ou o Brasil acaba com a saúva ou a saúva acaba com o Brasil”.

O autor é Coronel-Aviador, Presidente da Academia Brasileira de Defesa, Vice-Presidente do Centro Brasileiro de Estudos Estratégicos e Membro do Instituto de Geografia e História Militar do Brasil