█ O papel da hierarquia como sustentáculo das sociedades

Jober Rocha

Hierarquia, de forma generalizada, trata-se da classificação de qualquer elemento em ordem de importância. Pode se tratar da hierarquia de seres animados e também de materiais inanimados. A Hierarquia de dominância, por sua vez, comum entre os animais racionais e irracionais, pode ser definida como uma forma de relação social baseada no controle dos demais por algum (ou alguns) destes seres, sendo ela determinante da ordem de mando e do acesso aos recursos naturais.

A motivação para a dominância e para o alto status social de determinados indivíduos é, conceitualmente, semelhante à busca pelo poder; isto é, a busca pelo controle dos demais seres da mesma espécie e dos recursos utilitários, valiosos, disponíveis.

Tais indivíduos, com nível elevado de senso de poder, possuem, quase sempre, mais inteligência e/ou mais força e/ou mais determinação e/ou mais destemor, além de uma tendência maior na percepção de riscos, fazendo previsões mais otimistas que os demais, acerca dos desfechos de eventos futuros. Por isso, eles assumem comportamentos de risco com maior frequência que os demais e, com isto, obtêm mais êxitos.

 Entretanto, a hierarquia social está sujeita a alterações, todas às vezes nas quais os indivíduos dominantes são desafiados por quaisquer outros seres a eles subordinados. Ao longo da História Humana o poder de mando e a riqueza já mudaram inúmeras vezes de mãos.

Todavia, nenhum poder de mando prescinde da hierarquia. Sem ela não existiria a obediência e vigoraria, apenas, o salve-se quem puder em qualquer grupamento animal, racional ou irracional, que acabaria sendo dizimado por si mesmo ou por inimigos e predadores. Existe, pois, a hierarquia entre todos os povos da Terra; bem como, entre os agrupamentos animais e, mesmo, entre as colônias de diversas espécies de insetos.

A própria cosmogonia dos povos pressupõe a existência de hierarquia entre as suas divindades criadoras. As religiões e organizações esotéricas, os exércitos e as polícias, a família e todos os demais empreendimentos humanos, também, dela necessitam para o perfeito desempenho de suas missões.

Mesmo nas sociedades ditas sem classes, como as comunistas e socialistas, a hierarquia permanece viva, para que a sociedade também permaneça viva e se desenvolva com o passar do tempo.

Uma forma de destruir qualquer país ou nação sempre foi a de tentar minar a hierarquia. Ela é utilizada também na atualidade na chamada Guerra Híbrida, que consiste na combinação de uma guerra política, para desestabilizar governos (Revoluções Coloridas), e de guerras não convencionais, usando de todos os meios disponíveis de uma nação para alcançar objetivos nacionais sem entrar em guerra propriamente dita (aquém da guerra); podendo ou não haver o emprego de meios militares para manter o “status quo”.

Neste tipo de guerra, o primeiro grande objetivo buscado pelo inimigo é o de solapar a hierarquia daquele país ou nação alvo. Com isto desestabiliza-se a sociedade e eliminam-se os lideres que detinham o poder de comandar as massas e de verem suas decisões obedecidas.

No caos organizado que se seguiria com a quebra da hierarquia, os inimigos provocadores do caos ocupariam posições de domínio no país ou nação alvo e, assim, atingiriam seus objetivos de conquista do poder. Esta conquista de poder visa sempre substituir os grupos que detém o controle do mando, das matérias primas e da riqueza, de um modo geral, que seriam ocupados por novos grupos (internos ou externos).

As principais ideias pregadas por Karl Marx consistem na transição gradual para o comunismo, na ditadura do proletariado, no materialismo histórico e materialismo dialético, no socialismo científico, no modo de produção, na mais-valia, na luta de classes, na teoria marxista da ideologia e da alienação e no fetichismo da mercadoria. Não é nosso propósito discutir estas ideias, embora a maior parte se trate de falácias usadas para servir de suporte às ações visando à implantação do comunismo no planeta.

Marx condenava o sistema capitalista, a propriedade privada, a família, a liberdade individual e a religião, aspectos importantes na manutenção do ‘Status Quo’, que, ao contrário do muitos pensam, não é algo que deva, necessariamente, ser destruído e substituído por outro ‘Status Quo’. Existem aqueles que são benéficos e os que são maléficos, os que são legítimos e os que são arbitrários, com relação à vida social e a riqueza das nações.

Inicialmente a violência era usada para a implantação de regimes marxistas em todos os lugares do planeta. Posteriormente com a divulgação do Gramscismo, pelo filósofo italiano Antonio Gramsci (1891 -1937), em seus ‘Cadernos do Cárcere’, os ideólogos perceberam que a implantação do comunismo nos países do Ocidente não deveria seguir o modelo russo do uso da violência para conquistar ou tomar o Estado, mas, sim, ao contrário, primeiro conquistar o Estado e depois, então, aplicar a violência para finalizar o processo.

A Cartilha de Gramsci, segundo o autor, estabelece manobras simples, lentas e graduais, utilizando-se dos instrumentos legais e políticos da democracia para, de forma pacífica e sorrateira, minar e enfraquecer as principais trincheiras democráticas (que consistem no Executivo, no Legislativo, no Judiciário, nas Forças Armadas, na Religião, na Família e em suas hierarquias) e, fazendo uso da propaganda subliminar, do populismo e da demagogia, entorpecer as consciências e criar a sociedade massificada, pronta para a luta pela implantação do comunismo.

No artigo Considerações sobre a estratégia revolucionária de GRAMSCI, do Gen. Pinto Silva, publicado pela Academia Brasileira de Defesa, em 11/08/2021, nós encontramos:

Podemos verificar alguns temas já muito trabalhados no Brasil, particularmente, em três empreendimentos: – Superação do senso comum.

É o conjunto das opiniões aceitas pela generalidade das pessoas da sociedade, fazendo com que opiniões discrepantes pareçam desajustadas, significa a substituição e modificação de valores, tradições, costumes, modo de pensar, conformidade religiosa e social, sentimentos e outros elementos que dão à sociedade coesão interna, consenso e resistência a mudanças ideológicas.

                     – Neutralização das “Trincheiras” da Burguesia.

De um modo superficial, mas apoiados nas indicações de Gramsci, podemos reconhecer as “trincheiras” do grupo dominante, da burguesia brasileira, identificando-as no conjunto das organizações estatais, da sociedade política e das organizações privadas da sociedade civil. A neutralização, se possível a eliminação destas “trincheiras”, é predominantemente uma guerra psicológica visando a atingi-las e a miná-las como já vimos anteriormente, por meio do:

“Enfraquecimento”, pela desmoralização, desarticulação e perda de base social, política, legal e da opinião pública;

“Esvaziamento”, pelo isolamento da sociedade, perda de prestígio social, perda de funções orgânicas, comprometimento ético (“denuncismo”), quebra da coesão interna, “dissidência interna”;

“Constrangimento e inibição” por meio do “patrulhamento”, penetração ideológica, infiltração de intelectuais orgânicos.

                        – “Estado Ampliado”.

A “ampliação” do Estado, isto é, a absorção deste pela sociedade civil, segundo a estratégia de Gramsci, deve ser iniciada ainda na fase de luta pela hegemonia, antes mesmo da tomada do poder. Objetivamente, este empreendimento é conduzido pela “sociedade civil organizada das classes subalternas e dos seus aliados”. A “ampliação” se dá à medida que estes aparelhos (organizações) vão assumindo certas funções estatais. Por isto, as chamadas   organizações   voluntárias   não-estatais   têm   proliferado, muitas   sob   a denominação genérica de “organizações não-governamentais” (ONG), sustentação financeira nunca tem sua origem muito bem conhecida. Mas, o fato é que seus recursos não são poucos, antes são abundantes e suficientes para financiar os mais variados projetos e iniciativas e para manter muitas pessoas ativas sob os títulos de ambientalistas, especialistas, defensores disto e daquilo, pacifistas etc. Enfim, um exército de intelectuais orgânicos assalariados, alguns dos quais vêm ganhando notoriedade nacional e assídua presença nos  meios de comunicação social.

Jean Jacques Rousseau (1712-1778), no século XVIII, foi um dos primeiros pensadores a discorrer sobre as origens da propriedade privada, das leis, dos governantes e dos tiranos, o que lhe valeu inúmeras perseguições, tanto por católicos quanto por protestantes. Seus escritos eram considerados subversivos e, por diversas vezes, teve que fugir da cidade onde se encontrava para não ser preso. Em seu ‘Discurso Sobre a Origem da Desigualdade entre os Homens’, escrito em 1755, destacava: “Da cultura das terras resulta, necessariamente, a sua partilha, e da propriedade, uma vez reconhecida, as primeiras regras de justiça”…, “Antes de terem sido inventados os sinais representativos de riqueza, estas só podiam consistir em terras e em animais, os únicos bens reais que os homens poderiam possuir”… “No entanto, com o desenvolvimento e a expansão das comunidades, os interesses entraram em conflito, armando-se uns contra os outros”… “Para livrar da opressão os fracos, conter os ambiciosos e assegurar, a cada um, a posse do que lhe pertencia foram instituídos regulamentos de justiça e de paz, aos quais todos eram obrigados a se conformar”… “Assim, em vez de voltar as suas forças contra eles mesmos, reuniram-se em um poder supremo que os governava segundo leis que protegiam e defendiam todos os membros da associação, repeliam os inimigos comuns e os mantinham em uma eterna concórdia”… “Este poder supremo, entretanto, certamente, era formado pelos mais ricos, pelos mais inteligentes e pelos mais fortes”… “Dessa união originou-se a sociedade e as leis, que deram novos entraves aos fracos, aos pobres e aos menos inteligentes e novas forças aos ricos, aos fortes e aos mais inteligentes, destruindo irremediavelmente a liberdade natural e fixando, para sempre, a lei da propriedade e da desigualdade. De uma astuta usurpação fizeram um direito irrevogável, e, para proveito de alguns ambiciosos, sujeitaram para o futuro todo o gênero humano ao trabalho, à servidão e à miséria”… “Com o estabelecimento de uma única sociedade deste tipo, tornou-se indispensável o estabelecimento de todas as outras, para fazer frente a esta comunidade com forças unidas, e, assim, as sociedades se multiplicaram sobre a face da terra”… “O povo, já acostumado à dependência, ao repouso e às comodidades da vida (e já incapaz de poder quebrar os ferros que o sujeitava), consentiu em deixar aumentar sua servidão para firmar sua tranquilidade: e foi assim que os chefes tornados hereditários, acostumaram-se a olhar sua magistratura como um bem da família; a se olharem, eles mesmos, como os proprietários do Estado, do qual, a princípio, eram apenas seus oficiais; a considerar seus concidadãos como seus escravos; a contá-los como gado, no número das coisas que lhes pertenciam; e a se considerarem, eles próprios, iguais aos deuses e reis dos reis”. “Se seguirmos o progresso da desigualdade nessas diferentes revoluções, veremos que o estabelecimento da lei e do direito de propriedade foi o seu primeiro termo, a instituição da magistratura o segundo, e que o terceiro e último foi a mudança do poder legítimo em poder arbitrário. De sorte que a condição de rico e de pobre foi autorizada pela primeira época, a de poderoso e de fraco pela segunda, e a de senhor e de escravo pela terceira, que é o último grau de desigualdade, o termo ao qual chegam finalmente todos os outros, até que novas revoluções dissolvem completamente o governo, ou o aproximam da instituição legítima”.

Como bem destaca Rousseau, existe o poder legítimo e o poder arbitrário. Os que advogam por este último, nas democracias constituídas, valendo-se de ideologias espúrias, de maquinações veladas, de violações da lei, de aparelhamento do Estado por ativistas políticos, de fraudes eleitorais e de quebra da hierarquia vigente, tentam chegar ao poder de forma arbitrária. Nele instalado visam, apenas, seus interesses pessoais, do partido a que pertencem e dos grupos que os apoiam financeiramente, instaurando uma cleptocracia vitalícia no comando do país sob a capa de um regime comunista. O atual presidente da Rússia já se encontra no poder a 22 anos, tendo assinado uma lei que pode mantê-lo até o ano de 2036 e, de acordo com a revista “Newsweek”, o CEO do Hermitage Capital Management acredita que a fortuna de Putin seja de, aproximadamente, US$ 200 bilhões.

Fidel Castro governou a República de Cuba, país sob o regime comunista, como primeiro-ministro, de 1959 a 1976 e, depois, como presidente daquela ilha do Caribe, de 1976 a 2008. Esteve no poder, portanto, durante 49 anos. Sua fortuna foi estimada em 900 milhões de dólares. O valor foi avaliado em 2006 pela revista americana Forbes, que o colocou em uma lista de governantes mais ricos do mundo.

Isto sem mencionar diversos outros ditadores de países comunistas da África, da América do Sul, da Ásia e do Oriente Médio.

Vê-se, portanto, que, seja qual for o regime vigente em qualquer país ou nação, a hierarquia é fator imprescindível para qualquer indivíduo governar. Por está razão é um dos primeiros baluartes a ser atacado por aqueles que desejam assumir o seu lugar.

Nosso atual presidente vem sofrendo ataques ao seu poder de mando desde que assumiu a presidência. A maioria de suas ordens, determinações, portarias, projetos e programas são contestados pelo parlamento, pelo judiciário ou por ambos, em uma viva demonstração do objetivo de minar seu poder e sua hierarquia, perante a população, as instituições nacionais e os organismos e foros internacionais.

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