█ Ensaio sobre uma possível Teoria da Evolução da Alma- Parte II

O filósofo Ludwig Wittgenstein disse em uma de suas obras que filosofar é como tentar descobrir o segredo de um cofre: cada pequeno ajuste no mecanismo parece levar a nada. Apenas quando tudo entra no lugar a porta se abre.  A empreitada a que me propus é idêntica à tentativa de abrir um cofre que esteve fechado desde o início da criação humana. Cada ajuste pertence a um ramo do conhecimento. Existe o primeiro ajuste religioso, o segundo filosófico e o terceiro científico, como todo cofre que só abre sua porta após três movimentos: o primeiro para a esquerda, o segundo para a direita e o terceiro, novamente, para a esquerda.                           


Considerando que o judaísmo, o catolicismo, o islamismo e o protestantismo creem todos na imortalidade do espírito e tendo em mente, segundo rezam estas doutrinas, que o período em que o ser humano passa encarnado é de apenas uma gota no oceano da sua existência espiritual eterna, alguns leitores poderiam levantar as seguintes questões: Qual a necessidade do espírito encarnar esta única vez? Apenas uma única encarnação, de uns poucos anos, seria suficiente para que o espírito obtivesse toda a evolução de que necessitaria (considerando que este não encarnaria já evoluído, mas encarnaria ignorante e simples, segundo preconizam estas doutrinas)? E se não conseguisse obter essa evolução, em sua única passagem por este mundo, por escolhas erradas feitas em razão, talvez, do que consideraria como seu livre arbítrio?   Não teria outras oportunidades, amorosa e compreensivelmente concedidas pelo Criador?  Não seria, talvez, um menosprezo, pelos desígnios desconhecidos do mundo espiritual, achar que apenas uma breve passagem pelo mundo material seria suficiente para que o espírito evoluísse tudo aquilo de que necessitaria? Ocorre, ainda, que, sendo Deus o único ser não criado, e tendo ele criado todos os demais seres, como se explicaria o fato de haver criado espíritos já evoluídos (os anjos, que não necessitariam encarnar na Terra) e espíritos ainda não evoluídos (nós outros, que teríamos de encarnar para evoluir)? Teria o Criador adotado dois pesos e duas medidas para suas criaturas? Por que não sermos, todos nós, espíritos de luz ou, todos nós, espíritos sem luz? Será que o fato de possuir luz (ou evolução) não seria, apenas, uma quantidade maior de encarnações vivenciadas?


Por sua vez, ao pregar o juízo final (quando os mortos ressuscitariam) não estariam, todas estas religiões, aceitando implicitamente a ideia da reencarnação, pois os mortos ao ressuscitarem passariam, sem dúvida, na ocasião, a ter uma alma, já que não há corpo humano vivo sem uma? Esta alma, certamente, não seria a sua própria (e não outra), que teria deixado o mundo espiritual para penetrar no mundo material novamente; isto é, reencarnando em um corpo de matéria?


Por outro lado, alguns leitores poderiam, também, questionar: – Se acreditarmos que a ressurreição dos mortos refere-se apenas a ressurreição do espírito e não a do corpo físico (até porque a dimensão espiritual onde, certamente, encontraremos o Criador e os demais Espíritos de Luz, não deverá ser uma dimensão material, de modo a que nela possam habitar corpos físicos ressuscitados convivendo com espíritos); ou seja, que tão somente os espíritos dos mortos iriam reviver na ocasião do juízo final, não estaríamos diante de uma contradição, já que o espírito, segundo afirmam, é imortal?


Pelo exposto, constata-se que todas as religiões creem na existência de uma alma (ou de um espírito) e que esta é parte integrante do ser humano. Várias acreditam na existência do destino (ou carma) ou na predestinação para a salvação.  Todas acreditam na evolução da alma (ou espírito). Algumas creem na reencarnação, outras não. A ‘Curva do Destino’, a rigor, iria ao encontro, basicamente, do preconizado pelo budismo, pelo espiritismo, pelo hinduísmo, pelo confucionismo e pelo taoísmo religiões estas que creem no determinismo e na reencarnação e, apenas, parcialmente, ao pregado pelo Islamismo no que tange a existência do destino.


As correntes filosóficas e os principais filósofos que estudaram o assunto, por sua vez, alternam-se, aceitando ou não o determinismo, reconhecendo ou não o livre-arbítrio. As culturas mais antigas, orientais, sob a influência do budismo e do hinduísmo, optaram por uma visão determinística da existência humana, que beneficiaria a evolução da alma.


As culturas ocidentais, sob a influência do judaísmo/ catolicismo/protestantismo, optaram por uma visão de livre-arbítrio, que beneficiaria a satisfação dos desejos do ego.   Estas duas visões parecem justificar o estagio de desenvolvimento econômico e científico mais elevado no ocidente que no oriente.


No próprio ocidente cristão os países de religião protestante, que consideram ademais a importância do sucesso material para a entrada no reino dos céus, desenvolveram-se mais (econômica e cientificamente) que aqueles de religião católica, para os quais a riqueza importa menos quando se trata de fazer parte deste reino. Em Mateus, 19,16 a 22, Jesus diz: “… um rico dificilmente entrará no reino dos céus… é mais fácil um camelo passar pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no reino de Deus”.


Em que pesem possíveis erros de tradução e de interpretação daquilo que disse Jesus, pode-se notar, no entanto, a importância crucial que a escolha, dentre um destes dois tipos de visão (determinística ou de livre-arbítrio), teve, até agora, na história do desenvolvimento econômico e científico da civilização humana.


O próprio trato com a natureza e a visão acerca do meio ambiente, têm sido influenciados por estes dois tipos de maneira de encarar a vida. A ideia filosófica, básica, sobre Deus, das culturas orientais, é a de que este é imanente a nós e a todos os demais seres; enquanto a cultura ocidental o considera como um ser transcendental e distante de nós.     A ideia de Deus imanente em todos os seres fortaleceu-se de tal modo no oriente, que acabou por surgir á ideia de que tudo é Deus, o que se denominou de panteísmo. Conforme o panteísmo, todos os seres e toda a existência de Deus são concebidos como um todo. Deus é a cabeça da totalidade e o mundo é seu corpo. As mais importantes religiões orientais (hinduísmo e budismo) são panteístas. O panteísmo oriental acentua o caráter intrinsecamente religioso da natureza; isto é, toda ela está animada pelo alento divino e, por isso, é como se fosse o corpo da divindade que, como tal, deve ser respeitada e venerada.


No ocidente, os críticos do panteísmo o acusam de ser uma espécie de ateísmo que nega a personalidade de Deus, como externo ao próprio universo. O catolicismo afirma que o panteísmo questiona não somente a fé católica, mas, segundo ele, o bom senso e a sã razão. Com efeito, para o catolicismo, Deus não poderia (nem parcialmente) identificar-se com o mundo, pois, por definição, é absoluto, necessário e ilimitado; ao passo que o mundo é relativo, contingente e limitado. Além disto, afirma que não pode haver evolução ou progresso em Deus, pois toda evolução pressupõe ou aquisição ou perda de perfeição; o que, em qualquer caso, implica em imperfeição, o que é absurdo em Deus.


Assim, para o catolicismo, Deus é, essencialmente, distinto do homem, do mundo e da realidade, visíveis, já que é absoluto e eterno, ao passo que as criaturas sensíveis são relativas, transitórias e temporárias. As principais religiões e doutrinas religiosas ocidentais são monoteístas (catolicismo, protestantismo e espiritismo).


Por sua vez, a crença politeísta das populações indígenas da América do Norte, Central e do Sul manteve preservada a natureza no novo continente, até a chegada do colonizador europeu. Considerando que a natureza era povoada de deuses (Deus das águas, dos animais, da terra, das colheitas, do sol, do ar, etc.), destruí-la era destruir os deuses ou destruir aquilo que a eles pertencia.


O Sistema Capitalista, que se iniciou no ocidente com a revolução industrial, trouxe ao mundo a ideia de que a redenção da humanidade estaria no crescimento econômico e no progresso, atendendo aos anseios do ego. Mais qualidade e quantidade de bens duráveis, bens de consumo de todo tipo, bens de produção, etc.


Na ânsia pela produção destes bens, muitas vezes supérfluos, que, supostamente, visariam atender as necessidades dos seres humanos, a natureza é vista como uma fonte de recursos inesgotável e, muitas vezes, gratuita.   Com isto, a pilhagem, a destruição e o desperdício, em escala mundial, têm se intensificado em nome do progresso.


Muito desta destruição atual se deve à maneira como os seres humanos encaram a natureza. Ao considerá-la, em razão de crenças religiosas, como tendo sido criada por Deus apenas para a satisfação de nossos desejos, como acontece no ocidente, passamos a consumi-la sem culpa, sem remorsos e sem cuidados.


Caso vigorassem aqui visões panteístas ou politeístas da divindade, certamente, o consumo do meio ambiente seria menor; já que, filosoficamente, pensaríamos diferente com relação à natureza da divindade.


A globalização da economia, com a expansão do Sistema Capitalista para o oriente, tem feito (e continuará fazendo) com que aumente a destruição do meio ambiente e que o consumo da natureza, nesta parte do globo terrestre, cada vez mais, deixe de ser feito de maneira sustentável.


Com base no que dizem as religiões e a filosofia, podemos, então, estabelecer as seguintes hipóteses: 1. A existência humana é determinística e Deus está em toda a natureza (Budismo, Hinduísmo, Sufismo, Confucionismo, Taoísmo e Xintoísmo); 2. A existência humana é determinística e Deus está fora da natureza (Islamismo, Espiritismo); 3. A existência humana possui total livre-arbítrio e Deus está em toda a natureza (nenhuma religião comunga com esta hipótese, pois, aparentemente, se trataria de uma contradição religiosa); e 4. A existência humana possui total livre-arbítrio e Deus está fora da natureza (Catolicismo, Protestantismo).


Cada uma destas hipóteses implicaria em uma maneira diferente, para seus seguidores, de encarar a vida e os demais fenômenos metafísicos.


A primeira hipótese seria a que mais nos aproximaria do Criador (que estaria na própria natureza) e, portanto, implicaria em uma menor necessidade da intermediação por parte de organizações religiosas entre Deus e os homens, além de induzir a uma maior pratica das chamadas virtudes, por parte dos cidadãos, em razão da visão determinística da existência.


A última delas seria a que mais nos distanciaria do Criador, criando, assim, uma necessidade maior da presença de instituições religiosas para servir de ponte entre o Criador e as criaturas e induziria a uma maior pratica dos chamados vícios (pecados), por parte dos cidadãos, em razão da visão religiosa de livre arbítrio e do constante apelo do Sistema Capitalista para a satisfação dos desejos do ego. Em que pesem os avanços obtidos pela ciência, de um modo geral, nós ainda estamos bem longe de poder encontrar explicações para os fenômenos metafísicos que, há milênios, ocupam constantemente o pensamento daqueles que se interessam pelo assunto. As teorias religiosas, filosóficas e cientificas têm-se sucedido, umas as outras, em um perpétuo embate ideológico pela primazia da posse sobre a verdade metafísica. A maior parte delas tenta esconder seu total desconhecimento sobre como as coisas ocorrem naquela realidade, através de textos muitas vezes rebuscados, ininteligíveis ou herméticos.


Pelo que podemos deduzir, com base em todas as informações a que até agora tivemos acesso, parece que tem sido constantemente negado ao ser humano, desde o inicio dos tempos até os dias atuais, o conhecimento irrefutável de como as coisas se passariam no território em que penetramos após a morte. As únicas instituições a se aventurarem a alguma incursão a respeito, neste campo, são as religiosas, que, todavia, o fazem não através de uma comprovação científica, mas, sim, da chamada ‘revelação’, que necessita da fé para se transformar em verdade aceita. Considerando que a espécie humana é portadora de características muito especiais, que lhe conferem um lugar de destaque entre as demais espécies, através do seu desenvolvimento intelectual e do acumulo de conhecimento proporcionado pelo progresso das ciências, chegaremos, com certeza, a descobrir como as coisas ocorrem do outro lado; mesmo porque, em conformidade com o nosso ponto de vista, grande parte dos fenômenos metafísicos de hoje serão, apenas, simples fenômenos físicos amanhã. Pelo fato de desconhecermos, no presente, as verdadeiras explicações para estes fatos, os colocamos para além da Física. Entretanto, todos eles não passariam de simples fenômenos pertencentes ao campo das ciências, conforme constataremos, com certeza, futuramente.


Miriam Patitucci em seu trabalho “A Matemática da Reencarnação”, fornece algumas interessantes estatísticas sobre o fenômeno da reencarnação:


* Existem cerca de 30 bilhões de espíritos, encarnados e desencarnados, ligados ao planeta Terra; sendo, destes, 6,9 bilhões encarnados (1/5) e 23,1 bilhões desencarnados (4/5);

* Dentre os espíritos encarnados, 4 bilhões são de almas doentes em processo de reeducação, 2 bilhões são de almas em busca de recuperação e 500 milhões são de almas missionárias coletivas para o progresso e bem-estar social.

* Dentre os espíritos desencarnados, 12 bilhões encontram-se, ainda, em lutas e sofrimentos, sem condições de reencarnar.  Seis bilhões se encontram em tarefas regenerativas e 5,5 bilhões constituem espíritos elevados, guias espirituais, espíritos superiores, avatares, auxiliares galácticos, etc., em sua maioria liberados de reencarnações.

* Dentre os espíritos desencarnados, ¼ não têm mais condições de reencarnar e serão enviados, compulsoriamente, para planetas mais atrasados. ¼ constituem espíritos evoluídos que não reencarnam mais e trabalham pelo progresso espiritual da terra. ¼ são formados por espíritos que ainda terão uma chance de reencarnar (são os refratários que se negam a reencarnar por mais de 2 ou 3 séculos). ¼ são formados por espíritos em regeneração.

* Uma estimativa da evolução da população encarnada e desencarnada, desde o início da era cristã, é a seguinte:

Ano 0 (Jesus Cristo)

300 milhões de encarnados

19,5 bilhões de desencarnados

Ano 476 D.C.(Inicio da Idade Média)

200 milhões de encarnados

19,8 bilhões de desencarnados

Século XV (Início dos descobrimentos)

500 milhões de encarnados

19,5 bilhões de desencarnados

Século XX (1900)

1,6 bilhões de encarnados,

18,4 bilhões de desencarnados.

Século XXI  (2000)

6,5 bilhões de encarnados,

23,5 bilhões de desencarnados.

Seres em processo de dor e doenças do espírito e do corpo:

*  16 bilhões (encarnados e desencarnados), sendo:

 4 bilhões (encarnados),

 12 bilhões (desencarnados).

Existiria, assim, uma média de três espíritos em crise, para cada alma encarnada em sofrimento.

*  Dos 16 bilhões mencionados, em processo de dor e doenças, tem-se:

 4 bilhões de enfermos buscando o bem,

 4 bilhões de criaturas perversas que, deliberadamente, agem mal,

 8 bilhões em estado de apatia, indiferença, indecisão e desânimo.

Estatísticas do Brasil:

*  191,5 milhões de encarnados,

*  766 milhões de desencarnados.


 Em uma residência com 5 espíritos encarnados, transitarão cerca de 20 espíritos desencarnados.


Alguns autores estimam o número médio de encarnações a que cada ser humano foi submetido, até o presente, da seguinte forma:


Suponhamos que todos nós já tenhamos vivido na Terra desde o surgimento dos primeiros homens, na pré-história, e consideremos, por hipótese, que todos nós tenhamos passado por um mesmo número de encarnações, apenas neste planeta.


Existe um total de cerca de seis bilhões de espíritos encarnados, atualmente, no nosso planeta (efetivo total da população mundial). Alguns estudos apontam para cerca de 120 bilhões de nascimentos de seres humanos, ocorridos no planeta Terra, desde o surgimento do homem primitivo até o presente.


Dividindo-se este número pelo número atual de habitantes, chegaremos a um total de 20 encarnações, em média, para cada habitante existente na atualidade, supondo, conforme já dito, que todos reencarnaram no mesmo planeta, a Terra.


Evidentemente, esta hipótese considera que a evolução alcançada por todos os espíritos tenha sido a mesma, até o presente, o que não deve ser verdade. Como se trata de um valor médio, do qual não conhecemos a variância nem o desvio padrão, alguns indivíduos poderão ter tido muito mais encarnações e outros muito menos, que as vinte consideradas.

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