Dom João VI

D. João VI, em retrato exposto no Museu Imperial de Petrópolis/RJ

Em 1767, nascia em Lisboa uma criança que se chamaria João Maria José Francisco Xavier de Paula Luiz Antônio Domingos Rafael de Bragança – DON JOÃO VI – cuja vida atribulada sofreu as conseqüências da Revolução Francesa.

Chegou a ser 27º Monarca de Portugal, quando ficou conhecido como “O CLEMENTE”.

Era filho de D. Pedro III e de Dona Maria Isabel, que se tornaria Dona Maria I.

Com a morte de seu irmão mais velho, herda o título de 21º Duque de Bragança.

Durante sua vida colecionou vários títulos nobiliárquicos como: Senhor do Infantado e duque de Beja; príncipe do Brasil e príncipe de Portugal; duque de Bragança; príncipe regente de Portugal; príncipe e rei do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves; rei de Portugal e Imperador do Brasil. Ele e seu filho, D. Pedro, foram os únicos monarcas em dois continentes: América e Europa. Ele, com o título de rei João VI, e seu filho, Pedro I, no Brasil e Pedro IV, em Portugal.

Assumiu o compromisso de casamento com a infanta Carlota Joaquina de Bourbon, em 8 de maio de 1785. Dona Carlota era filha do rei da Espanha – Carlos IV – e de Dona Maria Luisa de Parma. O casamento só se consumou em 1790. Tiveram nove filhos, sendo três homens e seis mulheres. Esta infanta nasceu em 8 de abril de 1775 e veio a falecer em Portugal em 7 de janeiro de 1830.

Filha e sucessora de D. José I (reinou de 1750 – 1777) Dona Maria I (monarca de 1777 a 1816) casou-se com seu tio, D. Pedro III (rei consorte) e dele ficou viúva em 1786. O agravamento de problemas internos durante seu reinado reflexos dos movimentos revolucionários franceses sobre Portugal afetaram profundamente a personalidade da rainha a ponto de fazerem-na perder a razão em 10 de fevereiro de 1792, quando D. João teve que assumir a regência do reino de Portugal, até a morte de sua progenitora, em 20 de
março de 1816.

Veio a época napoleônica e Portugal procurou ficar neutro nas guerras que se travaram no continente europeu, ao comando de Napoleão. Ficou ao lado da Espanha, em 1793, contra a França, tentando combater a Revolução Francesa. Napoleão, querendo isolar a Inglaterra, convence a Espanha a invadir Portugal, o que resultou na chamada “Guerra das laranjas”. Derrotado Portugal, assina a paz e promete fechar seus portos ao comércio com a Inglaterra.

Com a vitória inglesa na batalha de Trafalgar, derrotando a França e a Espanha, a Inglaterra passa a dominar os mares e Portugal procura adiar o fechamento de seus portos, constante da imposição francesa. Napoleão não aceita a tentativa lusa e invade Portugal em 1807. Este fato iria mudar a história de Portugal e da sua colônia, Brasil.

Protegida pela esquadra inglesa, a armada portuguesa parte do Tejo para o Brasil, em 27 de novembro de 1807, sendo Lisboa ocupada pelas tropas francesas, ao comando de Junot, em 30 de novembro do mesmo ano. Fala-se que Napoleão muito se irritara com a fuga da família real portuguesa, pois considerou a não prisão de Don João como uma derrota francesa.

Em 22 de janeiro de 1808 aporta a comitiva real portuguesa em Salvador, Bahia. Podemos imaginar as dificuldades de toda ordem, as agruras sofridas por todas as pessoas que tiveram que enfrentar a travessia do Atlântico, naquela época, em particular, os integrantes da Família Real, em especial a rainha.

A chegada de Don João ao Brasil teve uma influência capital para a evolução de nossa história. A presença de D. João no Brasil prefigurava a presença do Rei entre nós representando o símbolo que permitiu a manutenção de nossa Unidade Nacional. Isto foi fundamental.

Ainda em Salvador, em 28 de janeiro de 1808, D. João decreta a abertura dos nossos portos para o mundo. Nossos pulmões começaram a receber mais oxigênio.

Em março de 1808, transferiu-se para o Rio de Janeiro e lá permaneceria por treze anos, durante os quais, imprimiu um grande desenvolvimento ao Brasil. De logo, mandou invadir a GUIANA FRANCESA, onde destacamos a figura do marquês de Cabo Frio, primeiro ministro da Marinha do Brasil.
Como já foi dito atrás, sua genitora veio a falecer em março de 1816 e Don João foi coroado Rei de Portugal, Brasil e Algarves, em 6 de fevereiro de 1818.

Enquanto aqui permaneceu, procurou desenvolver a sua pátria, pois em 1815 elevou o Brasil a reino. Podemos citar como muito dos seus feitos:

  • A conquista da Banda Oriental (Uruguai) pelo Marechal Lecor, Barão de Laguna, em 20 de janeiro de 1817, e que permaneceu incorporada ao nosso território até 1827, quando se deu a batalha indecisa do Passo do Rosário ou Ituzaingó que, contudo teve como conseqüência a independência do Uruguai, reconhecida pelo Brasil em 1828;
  • Criação da Academia das Belas Artes;
  • Fundação da Academia Militar, da Marinha e de um hospital militar;
  • Criação do Jardim Botânico e da Biblioteca Real;
  • liberação da atividade industrial, já em 1808;

A Europa continuava sob as das lutas napoleônicas até que veio a derrota do Grande Corso na batalha de Waterloo, em 18 de junho de 1815. Tentativas do restabelecimento da monarquia absoluta ainda foram buscadas, mas os ventos da LIBERDADE – IGUALDADE e FRATERNIDADE sopravam em todas as direções. A América do Norte se libertara e as colônias espanholas, em lutas internas, procuravam libertar-se do julgo espanhol.

No Brasil tivemos a tentativa da Revolução do Equador em 1817, mas foi logo abafada. Don João VI começou a receber pressão para voltar para Portugal. Os portugueses não aceitavam que a sede do Poder se encontrasse fora de Lisboa. Eclodiu a revolta liberal do Porto em 1820, pedindo uma Assembleia Constituinte e o fim da Monarquia absoluta.

Em fevereiro de 1821, as tropas portuguesas, com sede no Rio, amotinaram-se, exigindo a ida do Rei para Portugal. Prevendo o futuro, nomeou seu filho mais velho, Don. Pedro, Regente do Brasil e ainda o alertou do cuidado que deveria ter para que a coroa não fosse colocada na cabeça de algum aventureiro.

Lá se vai DON JOÃO VI para Portugal enfrentar as ambições de seu filho Don Miguel. Partiu em 26 de abril de 1821. Em 29 de agosto de 1825 reconhece a independência do Brasil e o seu filho como Imperador da nova Nação.

Em 7 de janeiro de 1830 veio a falecer e tudo indica teria sido envenenado com arsênico. Seu corpo foi embalsamado e levado para o Panteão dos Bragança, no mosteiro de São Vicente de Fora, em Lisboa.

Por fim, ao render as minhas homenagens a Dom. João VI, patrono da cadeira nº 1 da ACADEMIA BRASILEIRA DE DEFESA, em que tenho a honra de tomar assento, genuflexo me encontro perante a grandeza de sua alma para lhe agradecer o que fez por nossa Pátria.

Sua figura nos deu a UNIDADE NACIONAL.

GEN. DE DIV. REF. FRANCISCO BATISTA TORRES DE MELO
Acadêmico ocupante da Cadeira nº 1 – Patrono Dom João VI