Brigadeiro Nero Moura

“Liderança, honradez e lealdade”

 

Pioneiro dos primeiros anos de existência da Arma Aérea no País, foi preponderante impulsionador da criação do Ministério da Aeronáutica e da Força Aérea Brasileira, deixando seu nome, especialmente, gravado na história da nossa Aviação de Combate.

 

Gaúcho de Cachoeira do Sul, de família simples dedicada à agricultura, veio ao mundo em 30 de janeiro de 1910. Desde a juventude, interessou-se pela aviação militar, procurando sempre as publicações de livros e notícias com participação de aeronaves em operações de guerra, com destaque para as narrativas da Primeira Grande Guerra (1914/1918).

 

Cedo, se decidiu pelo direcionamento para a atividade castrense, tendo cursado o Colégio Militar de Porto Alegre e, em seguida, ingressado na Escola Militar de Realengo, optando pela Arma Aérea. Assim, começou seus estudos na Escola de Aviação Militar, no Campo dos Afonsos, tendo-se graduado Aspirante-Aviador na 5ª Arma do Exército, em novembro de 1930.

 

Nos primeiros anos de formado, desenvolveu suas habilidades no Correio Aéreo Militar, tendo participado da Revolução Constitucionalista de 1932, ao lado das forças legalistas, sob o comando do Major Eduardo Gomes. Finda essa luta, foi instrutor de pilotagem no Campo dos Afonsos, período em que foi promovido a Tenente e a Capitão, sendo designado para cursar, na França, a École d’Application de l’Air, com duração de um ano. Em 1935, combateu os revoltosos da Intentona Comunista, executando, inclusive, incursões de bombardeio contra os mesmos, sitiados no 3º Regimento de Infantaria da Praia Vermelha.

 

Logo após, durante alguns anos, foi instrutor de Tiro e Bombardeio, tendo construído o primeiro estande para essa prática, em Jacarepaguá, no Rio de Janeiro.

 

Em 1938, assumiu o cargo de Comandante do 3º Regimento de Aviação, em Santa Maria, com posterior transferência para Canoas, também, no Rio Grande do Sul. Seu currículo e seu relacionamento com autoridades do Governo levaram-no à indicação para piloto do Presidente Getúlio Vargas, cargo que desempenhou por algum tempo. Com o início da Segunda Grande Guerra em 1939, o Governo Federal preocupou-se com a criação de um Ministério que centralizasse os assuntos ligados à Aeronáutica. Assim, ainda Capitão, como pessoa de confiança do Presidente, Nero Moura pôde contribuir para a criação, em 20 de janeiro de 1941, do Ministério da Aeronáutica e da Força Aérea Brasileira, separados do Exército e da Marinha. Sob a gestão de Joaquim Pedro Salgado Filho, o novo ministério dava seus primeiros passos para se organizar como Força independente, quando, então, o Maj Nero Moura pôde colaborar com grande parte das providências que foram tomadas para esse fim. Em função das agressões praticadas por submarinos alemães a navios brasileiros, em agosto de 1942, o Brasil declarou guerra aos países do Eixo (Alemanha, Itália e Japão), com a consequente iniciativa de se criar a Força Expedicionária Brasileira para lutar em terras europeias. Desse modo, em 18 de dezembro de 1943, foi criado o 1º Grupo de Aviação de Caça, com a missão de se preparar para participar do referido conflito, tendo sido designado o Major Nero Moura para ser o seu primeiro comandante. Com essa oportunidade, surge, com destaque, o perfil desse aviador militar no desempenho à frente da nova unidade da Força Aérea Brasileira.

 

Desde os primeiros momentos, liderando mais do que, simplesmente comandando, conduziu seus homens, desde o preparo no Brasil e nos Estados Unidos, até sua instalação e operação em terras italianas – Livorno (2 de outubro de 1944) e Tarquínia e Pisa, até maio de 1945. Prestigiando sempre a individualidade de seus companheiros, oficiais e praças, soube conduzi-los, incutindo-lhes amizade e despertando-lhes confiança no desempenho de suas tarefas e missões. A Unidade desempenhou excepcional quantidade de missões de guerra, considerando o breve espaço de tempo que ali passaram, com o exemplo sempre presente de seu líder e comandante, que, além de administrador, participava das missões de guerra em igualdade de condições com os demais pilotos (62 missões de guerra). Assim, o Grupo de Caça brasileiro conquistou o respeito e a admiração dos aliados, militares e políticos de outros países, o que lhes granjeou citações formais, não só do Comandante de sua área de operações, como, posteriormente, a Presidential Unit Citation, do Governo dos Estados Unidos da América do Norte.

 

Em agosto de 1945, o 1º Grupo de Aviação de Caça retornou ao Brasil, transportando, em voo, dezenove aeronaves P-47 – Thunderbolt, as mesmas com que lutaram em céus da Itália, para se integrarem à Força Aérea Brasileira (FAB). Já no Brasil, Nero Moura continuou no comando do 1º Grupo de Aviação de Caça, onde se encontrava quando foi deflagrado um movimento político contra o Presidente Vargas. Demonstrando sua firme estrutura moral e de personalidade, manteve lealdade ao Presidente. Desta forma, pediu passagem para a reserva, situação para onde foi em dezembro de 1945, no posto de Coronel, passando a trabalhar, como civil, em empresa de transporte aéreo (1945 a 1951). Com a posterior eleição de Getúlio Vargas, foi convidado para Ministro da Aeronáutica, cargo que assumiu como Coronel-Aviador em Janeiro de 1951, com 41 anos de idade. Em agosto desse mesmo ano foi promovido, ex-ofício a Brigadeiro-do-Ar, em consideração à sua participação contra a Intentona Comunista de 1935. Sua gestão foi extremamente profícua, tendo em vista as modificações estruturais introduzidas no jovem Ministério, para o seu desenvolvimento e a sua consolidação.

 

Entre outras realizações, destacamse as seguintes: 

 

  • Fortalecimento do Estado-Maior como órgão de coordenação organizacional. 
  • Ativação do Centro Técnico de Aeronáutica, hoje Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespaciais. 
  • Criação da Comissão para implantar a Escola de Aeronáutica (Academia da Força Aérea) em Pirassununga. 
  • Criação do Núcleo do Comando Aerotático, para coordenar as operações com o Exército e a Marinha. 
  • Aperfeiçoamento da atividade de proteção ao voo, com a Diretoria de Rotas Aéreas, mais tarde, Diretoria de eletrônica e Proteção ao Voo e, atualmente, Departamento de Controle do Espaço Aéreo. 
  • Criação da Escola de Formação de Oficiais Especialistas e de Infantaria de Guarda.  Introdução da aviação a jato na FAB e no Brasil, com a aquisição de 70 modernas aeronaves Gloster Meteor, na Inglaterra. 
  • Início da construção do Aeroporto do Galeão, o primeiro dos grandes aeroportos do Brasil. 
  • Criação da Esquadrilha de Demonstração Aérea, agora famosa no mundo todo.
  • Implantação do Centro de Operação de Aeronaves quadrimotores, em Recife, com a missão principal de proteção da rota Recife-Dakar. 

 

Vital contribuição para a implantação da doutrina de formação e emprego da aviação de Caça na FAB, hoje, centro de excelência comparável às mais desenvolvidas aviações militares do mundo. Assim sendo, a gestão ministerial de Nero Moura, apesar de breve no tempo, conseguiu conferir os alicerces sólidos da infraestrutura necessária para garantir o crescimento e o desenvolvimento da Aeronáutica Brasileira de nossos dias. Além de competente líder e profissional de combate, também, um exemplar administrador, de visão ampla e realizadora. Infelizmente, ainda no pleno exercício do cargo de Ministro, o País foi sacudido pelo escândalo do atentado da Rua Tonelero contra Carlos de Lacerda, o qual desencadeou a morte do Major Rubens Florentino Vaz.

 

Pressionado pelas circunstâncias e pelos colegas, Nero Moura demite-se em 16 de agosto de 1954, retirando-se definitivamente para a atividade privada. Durante os últimos anos de sua vida, manteve sempre estreita ligação com os companheiros, não só os do grupo da guerra na Itália, como também os Pilotos de Caça mais jovens, através de reuniões anuais, as últimas em sua própria residência no Rio de Janeiro, continuando a exercer sobre os mesmos sua forte liderança.

 

Em 22 de abril de 1986 foi proclamado Patrono vivo da Aviação de Caça.

 

Falecido em 17 de dezembro de 1994, com 84 anos, foi oficialmente declarado Patrono da Aviação de Caça da Força Aérea Brasileira.

Bibliografia: INCAER – “Brigadeiro Nero Moura, Patrono da Aviação de Caça”. Preparado pelo Cel.-Av. Manoel Cambeses Júnior. Imagem gentilmente cedida pelo INCAER.